Seleção atropela o Chile em noite inspiradaPor Raoni Alves

Dunga ou Don Pedro I? Estádio Nacional, no Chile, ou as margens do Rio Ipiranga? Robinho, Luis Fabiano, Ronaldinho, Diego e cia ou os cavaleiros da corte portuguesa? Será uma independência definitiva ou o povo brasileiro logo se lembrará daqueles jogos sem graça, do time sem mobilidade e que só ganhava de babas como Bolívia, Nova Zelândia e Arimatéia? O 7 de setembro foi exatamente o mesmo, mas a última pergunta ficará sem resposta, pelo menos até o Brasil voltar a enfrentar um time de alto nível. Até porque esse ano o time de Dunga pegará a Bolívia, no Engenhão, na próxima quarta-feira, e em outubro desafiará os "poderosos" venezuelanos, em Maracaíbo, e a Colômbia, em terras brasileiras. Francamente, a resposta só virá em 2009.
Ao menos os jogadores e comissão técnica terão a tranqüilidade que ainda não tiveram na seleção. Dunga ganhou uma sobrevida e provavelmente não ouvirá com tanta frequência os pedidos por outro treinador. Resta saber até quando. Robinho deixou a impressão que não fará diferença o local onde jogará na próxima temporada. Basta lembrar que o craque das pedaladas nunca foi 100% feliz no Real Madrid e nesse período sempre arrebentou com a amarelinha. O Brasil sabe que tem uma zaga consistente, seja com os titulares Lucio e Juan, ou com as entradas de Luizão e Alex Silva, sem falar em Breno e Thiago Silva, por exemplo. O ataque foi competente e encontrou, definitivamente, o seu homem gol. O "Fabuloso" foi o melhor em campo ontem e nas últimas vezes que foi exigido sempre se saiu bem. Diego foi uma grata surpresa. Ronaldinho, jogando mais a frente, sem se movimentar tanto, mas com vontade, mostrou que seus passes continuam sendo muito precisos. Resta definir os laterais e os volantes. Eles não comprometeram contra a seleção chilena, mas Lucas e Hernanes são muito mais jogadores que Josué e Gilberto Silva. E por incrível que pareça dois anos se passaram e as lacunas deixadas por Cafu e Roberto Carlos ainda não foram preenchidas.
Independente do resultado, a melhor noticia dos 3 a 0 de ontem, foi a volta do bom futebol, da vontade de vencer, do ânimo e vibração dos jogadores, antes, durante e depois da partida. O Brasil voltou a jogar para frente. Voltou a se preocupar primeiro em vencer, independente da força de seu adversário. Vale lembrar que o time Chileno é muito bom, habilidoso e veloz. Os comandados por El Loco Bielsa, que de maluco não tem nada, jogaram para cima e fizeram um jogo muito parelho, que o placar talvez esconda.

A verdade é que assim como há 186 anos, o Brasil declarou independência. Dessa vez os gritos foram de alívio e vibração. A independência veio e a morte foi do futebol burocrático e tecnicamente fraco que vinha sendo exibido na era Dunga. Nesse tempo, a seleção mesmo quando venceu não convenceu e sempre dependeu de lampejos individuais para passar por seus adversários. Espero que agora o grito de liberdade não seja somente para calar os críticos e sim para o técnico Dunga se inspirar e adotar essa postura sempre. Sempre partindo em busca da vitória, escalando o time para frente e impondo seu ritmo aos adversários e não mudando as características do Brasil como vinha fazendo. Para não perder o costume, segue um último tormento na cabeça do nosso zangado mestre Dunga, que por hora está feliz, mas pode mudar de humor com um simples atchim. Onde vai entrar o Kaká nesse time? Te compliquei hein professor.