
Final da década de 70. Dois clubes do interior de São Paulo começam a despertar curiosidade e chamar a atenção dos amantes do futebol. Trata-se das duas equipes da cidade de Campinas, que travam, até hoje, a maior rivalidade da história do futebol do interior, sem deixar a desejar aos grandes clássicos das capitais do país.
A Macaca e o Bugre, apelidos pelo qual os dois clubes ficaram conhecidos, se firmavam no cenário nacional e através de Dicá, pelo lado pontepretano, e do jovem Careca, defendendo o Guarani, mostraram a categoria das equipes campineiras que encantariam e marcariam seus nomes na história.

No ano de 1977, bons ventos sopravam no Moisés Lucarelli e com o toque de um Mestre, Dicá, os pontepretanos desfrutaram do sabor de decidir um Campeonato Paulista, contra o Corinthians. O resultado é conhecido por todos, já que tirou os corinthianos da fila. Apesar da derrota, a partir daquele momento todos souberam do que a Macaca de Campinas era capaz.
Passado um ano, os ventos resolveram soprar à alguns poucos quilômetros dali, mais precisamente no Brinco de Ouro da Princesa. Este foi o local em que um garoto, chamado Careca, virou o homem decisivo para o título do Guarani de Campeão Brasileiro de 1978. Com duas vitórias sobre o Palmeiras, o Bugre campineiro entrou na história como primeiro clube do interior a ser campeão nacional e até hoje detém esse posto.

Desde então, a Associação Atlética Ponte Preta e o Guarani Futebol Clube figuraram entre os grandes e ainda disputariam títulos e jogos de grande expressão que ainda permanecem na memória dos torcedores dessas duas grandes instituições.
Ao andar pelas ruas de Campinas nota-se o amor que os moradores sentem por seus clubes e pelos bons tempos de glórias destes, como relembra o comerciante Valder, de 63 anos.
- Sinto saudade dos tempos de Dicá, pois faz um bom tempo que o clube não tem um time tão forte quanto aquele. Nosso último ídolo foi o Washington.
Toda essa saudade pode ser explicada pelas recentes campanhas dos dois clubes locais, sendo a Ponte Preta rebaixada para a Segunda Divisão nacional e o Guarani para a Terceira Divisão, ficando bem distantes do verdadeiro lugar onde deveriam estar.
- Falta uma direção séria para os clubes de Campinas, especialmente o Guarani, onde os dirigentes não pensam no bem do clube e afundam o Bugre cada vez mais em dívidas. Fica difícil sair dessa situação – afirma o aposentado Antônio, de 72 anos.
No caso do Guarani, o estádio Brinco de Ouro da Princesa corre o risco de ser vendido para um grupo de empresários estrangeiros, o que poderá ser considerado um crime contra a história do clube, já que o Brinco é o maior patrimônio do torcedor bugrino e sua venda pode significar o atestado de óbito de uma instituição tão reconhecida e importante para o futebol brasileiro.

No entanto, é válido ressaltar o esforço que os torcedores do Guarani vêm fazendo para brigar por algo de seu direito, impedindo que acabem com parte de algo que foi conquistado pelos próprios torcedores, já que o estádio surgiu de um projeto ambicioso de pessoas que amavam o verde e branco. O clube possui cerca de 3.000 associados e tenta através de um projeto de sócio-torcedor trazer novamente a torcida para o seu estádio.
Apesar de eliminado da Terceira Divisão e condenado a disputar a competição no ano que vem, o Bugre retornou para a Primeira Divisão do Campeonato Paulista e tem nesse campeonato a grande chance de resgatar suas tradições.
Enquanto isso, no Majestoso, a Ponte Preta segue sua saga na Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro e muitos são os fatores que contribuem para isso. Para Dona Conceição, de 70 anos, torcedora símbolo e muito conhecida por sua devoção ao clube, faltou mais seriedade da arbitragem.
- Eu acompanhei a Ponte em todos os jogos e os juízes aprontaram com a gente, não escapou nenhum. A CBF deveria olhar com mais atenção para os clubes do interior – afirma a torcedora da Macaca, que ainda fez questão de lembrar que grandes jogadores do futebol brasileiro foram revelados pelo clube de seu coração, tais como o atacante Luis Fabiano da Seleção Brasileira.

Além dos problemas de arbitragem, outros torcedores chamam a atenção para a falta de estruturação do clube, alegando o excesso de perda de jogadores de qualidade da equipe, como constata o maior ídolo da história da Ponte Preta.
- A Ponte precisa se reestruturar. Perdemos muito tempo e jogadores com a chegada da Lei Pelé que nos pegou de surpresa. Tivemos momentos difíceis no aspecto financeiro e aos poucos estamos tentando nos reerguer. Aguardamos a chegada da Timemania, pois isso pode melhorar – afirma o craque Dicá.

O mestre, como é conhecido, ainda recorda seu momento mais marcante com a camisa do clube e não descarta, um dia, a possibilidade de assumir o cargo de maior influência na Ponte, a presidência.
- Aquela decisão com o Corinthians é muito marcante pra mim, pois a Ponte ganhou um reconhecimento fantástico depois daquele momento. Com relação a assumir a presidência do clube, nunca podemos dizer que não, vai depender da possibilidade. Hoje o presidente é um empresário que tem recursos para manter a Ponte e por enquanto estamos bem servidos.
É notório que o retorno dos grandes ídolos de Ponte Preta e Guarani para os seus respectivos clubes como presidentes é uma das saídas para que estes retomem o caminho das glórias e títulos que tanto marcaram essas duas equipes.
Resta ao torcedor bugrino e pontepretano aguardar por esse dia, em que os comandantes serão os mesmo que deram alegrias em anos em que os ventos sopravam forte pela bela Campinas.
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