Por Raoni Alves
Uma vez, conversando com o meu sábio pai em uma mesa de bar, logo apos a vitória do Flamengo sobre o Náutico, por 2 a 0, em pleno Estádio dos Aflitos, há poucas rodadas do termino do Campeonato Brasileiro mais equilibrado dos últimos anos, aquele que daria ao time da Gávea o hexacampeonato, eu ouvi a melhor definição sobre o futebol do Imperador. Meu pai disse que Adriano era como um touro bravo, um Miúra, que ficava ali encarando os adversários, olho no olho, a espera de um espaço para acertar sua patada. E se o espaço não aparecesse, ele mesmo criaria, com aquela força desproporcional para um atacante, que naquele momento e em tantos outros da carreira estava de bem com a vida e num esplendoroso vigor físico.
Adriano e o touro são de intimidar oponentes. Os dois derrubam adversários que vão ao seu encontro, os dois têm no olhar e na força suas principais armas. Só que tanto a perna esquerda do imperador, como os chifres de um Miúra podem transformar sonhos em frustrações, ou fazer vibrar aqueles que estão na sua torcida. Porém, os dois vivem em realidades que incomodam. Enquanto o touro vai a arena para morrer, o camisa dez nasceu para viver no gueto e agoniza a cada entrevista ou explicação que tenha que dar.
O destino do imperador estava traçado, ele seria apenas mais um a virar bandido e quem sabe conseguir chegar aos 20 anos. Sua realidade é na favela e problema nenhum teria o gosto por sua comunidade se ele não estivesse jogado fora a chance de mudar seu caminho e deixar seu exemplo como esperança para os mais jovens. Milhões de dólares, Libertadores, Copa do Mundo... Nada disso importa. "O que eu quero é ser feliz", diria o imperador. A falta de profissionalismo do atacante supera qualquer grande craque bad-boy do passado. Talvez somente Garrincha tenha sido tão Adriano. Mesmo assim, por serem épocas totalmente distintas, o desapego do Imperador com o futebol seja totalmente único. "To nem ai". Provavelmente seja esse o sentimento do imperador se não for à África do Sul no mês de julho. Talves o Miúra pense o mesmo ao deixar de ir a Plaza Del Toros, em Madrid, para aproveitar mais um domingo com seus iguais.
Contudo, sempre estará em seu instinto a força e a vontade de derrubar aqueles que se colocam à sua frente. Nem Adriano, nem um Miúra fazem distinção de adversários, imprensa, ou torcida. Eles querem é derrubá-los. O olhar continua intimidando, mas e a força ainda é a mesma? O Miúra luta até a morte e a torcida do Flamengo não aceitará mais uma queda sem sua principal força em campo. Portanto, Adriano, apareça, liberte o Miúra que está adormecido e mais uma vez derrube seus oponentes.
domingo, 2 de maio de 2010
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