segunda-feira, 17 de maio de 2010

O TIME É ESSE E RUMO AO HEXA

Por Raoni Alves

No último dia cinco de março, há 73 dias atrás, eu tentei adivinhar o que se passava na cabeça do comandante da nossa seleção. Não foi um simples chutômetro. Os palpites sobre os selecionáveis vieram depois de três anos e meio acompanhando o trabalho e as entrevistas do zangado treinador da nossa seleção. E como Dunga nunca foi um cara imprevisível e por tanto sempre teve a "coerência" como escudo para espantar novas experiências, eu consegui acertar 20 dos 23 convocados que defenderão o Brasil na Copa da África do Sul. Errei um goleiro (apostei em Vitor no lugar de Gomes), um lateral esquerdo (Ronaldinho Gaucho/Gilberto) e um atacante (Adriano/Grafite). Droga! Como eu queria que o Dunga fosse menos coerente e previsível. Será esse o drama do nosso time? Espero que tanta previsibilidade não facilite a vida de nossos oponentes.

Contudo, não tem conversa. O time que vai a Copa é esse e mesmo discordando de A, B e C, vou torcer pelo hexa e vibrar muito com cada gol brasileiro. Esse é meu papel como torcedor. Apoiarei o Dunga e seus jogadores, mas meu papel de comentarista não pode ficar de lado. Perdendo ou ganhando, eu e tantos outros, vamos expor opiniões. Espero que nosso “professor” não fique com raivinha caso alguém discorde de suas convicções. Não seremos menos brasileiros e nem menos patriotas por isso. Por favor, né zangado!

Esse time tem chance de ganhar a copa? Sim, tem. Nós temos um elenco vibrante e com uma disposição tática poucas vezes vista. Porém, é um Brasil que jogará nos contra-ataques. É um time com uma defesa sensacional. Esse será nosso ponto forte. A base dessa zaga vai decidir a Liga dos Campeões da Europa, com Julio César, Lucio e Maicon, em favor da Inter de Milão. Esse mesmo trio foi muito responsável por parar Messi e cia, na semifinal da mesma competição, contra o virtuoso Barcelona. Não lembro de uma defesa tão segura como essa. Além disso, vamos ter no time titular dois cabeças-de-área que dificilmente chegarão ao ataque (Gilberto Silva e Felipe Melo) e mais um volante com mobilidade para ir à frente, mas com grande preocupação com a marcação (Ramires). Tirando esses jogadores, nos restam mais três atletas com força ofensiva (Kaka, Robinho e Luis Fabiano). Será suficiente? Tenho minhas duvidas.

E o banco de reservas? Lá, teremos dois atacantes de ofício, sem experiência em mundiais (Nilmar e Grafite). De resto, um time de volantes e zagueiros (Josué, Elano, Kleberson, Júlio Batista, Luisão e Thiago Silva). As opções para uma mudança de atitude durante a competição só virão das laterais, com Gilberto e principalmente Daniel Alves. Dunga, tomara que tanta coerência dê resultados. Afinal, aparentemente, um duelo entre esse time do Dunga e uma seleção dos jogadores que não foram à Copa seria um jogo interessante. Na minha opinião ganharia o time dos excluídos. Imaginem só: Vitor, Rafinha, Alex, Miranda e Marcelo; Lucas, Denilson, Ganso e Ronaldinho Gaucho; Neymar ou Pato e Adriano. Mas essa é apenas a minha humilde opinião. Não se ofenda Dunga. Tio Parreira ficaria orgulhoso com tamanha teimosia. Que venha o hexa, contestado ou não, será uma festa só.

domingo, 2 de maio de 2010

ADRIANO, LIBERTE O MIÚRA ADORMECIDO

Por Raoni Alves

Uma vez, conversando com o meu sábio pai em uma mesa de bar, logo apos a vitória do Flamengo sobre o Náutico, por 2 a 0, em pleno Estádio dos Aflitos, há poucas rodadas do termino do Campeonato Brasileiro mais equilibrado dos últimos anos, aquele que daria ao time da Gávea o hexacampeonato, eu ouvi a melhor definição sobre o futebol do Imperador. Meu pai disse que Adriano era como um touro bravo, um Miúra, que ficava ali encarando os adversários, olho no olho, a espera de um espaço para acertar sua patada. E se o espaço não aparecesse, ele mesmo criaria, com aquela força desproporcional para um atacante, que naquele momento e em tantos outros da carreira estava de bem com a vida e num esplendoroso vigor físico.

Adriano e o touro são de intimidar oponentes. Os dois derrubam adversários que vão ao seu encontro, os dois têm no olhar e na força suas principais armas. Só que tanto a perna esquerda do imperador, como os chifres de um Miúra podem transformar sonhos em frustrações, ou fazer vibrar aqueles que estão na sua torcida. Porém, os dois vivem em realidades que incomodam. Enquanto o touro vai a arena para morrer, o camisa dez nasceu para viver no gueto e agoniza a cada entrevista ou explicação que tenha que dar.

O destino do imperador estava traçado, ele seria apenas mais um a virar bandido e quem sabe conseguir chegar aos 20 anos. Sua realidade é na favela e problema nenhum teria o gosto por sua comunidade se ele não estivesse jogado fora a chance de mudar seu caminho e deixar seu exemplo como esperança para os mais jovens. Milhões de dólares, Libertadores, Copa do Mundo... Nada disso importa. "O que eu quero é ser feliz", diria o imperador. A falta de profissionalismo do atacante supera qualquer grande craque bad-boy do passado. Talvez somente Garrincha tenha sido tão Adriano. Mesmo assim, por serem épocas totalmente distintas, o desapego do Imperador com o futebol seja totalmente único. "To nem ai". Provavelmente seja esse o sentimento do imperador se não for à África do Sul no mês de julho. Talves o Miúra pense o mesmo ao deixar de ir a Plaza Del Toros, em Madrid, para aproveitar mais um domingo com seus iguais.

Contudo, sempre estará em seu instinto a força e a vontade de derrubar aqueles que se colocam à sua frente. Nem Adriano, nem um Miúra fazem distinção de adversários, imprensa, ou torcida. Eles querem é derrubá-los. O olhar continua intimidando, mas e a força ainda é a mesma? O Miúra luta até a morte e a torcida do Flamengo não aceitará mais uma queda sem sua principal força em campo. Portanto, Adriano, apareça, liberte o Miúra que está adormecido e mais uma vez derrube seus oponentes.